domingo, 8 de maio de 2011

A Abertura Europeia ao Mundo


Principais centros culturais de produção e difusão de sínteses e inovações


v     Desde finais da Idade Média que as cidades se tinham tornado centros culturais e cosmopolitas, atraindo letrados e estudantes de regiões distantes. Habitadas por comerciantes burgueses e menos sujeitas às pressões senhoriais, desce cedo se tornaram centros criadores e difusores de saber.

v     Cidades como Roma, Florença, Veneza, cheias de ricos comerciantes, estimularam o mecenatismo e estimularam a criação literária e artística através do patrocínio de artistas como Miguel Ângelo, Leonardo Da Vinci, Rafael, Bramante etc.

v     Também Lisboa e Sevilha foram protagonistas deste grande desenvolvimento cultural e civilizacional. O comércio ultramarino e o exclusivo deste comércio e navegação devido ao Tratado de Tordesilhas, tornou estas cidades centros difusoras de novidades e de saberes.

O Contributo português Inovação técnica; observação e descrição da natureza.

v     As viagens de descobrimento e comércio colocaram em prática muito saberes e aperfeiçoamentos técnicos ligados à arte de marear e às ciências náuiticas,
v     A cartografia (mapas, tábuas de latitudes, traçados correctos de paralelos e meridianos), foi uma das ciências onde os portugueses foram pioneiros.
v     As viagens, trouxeram também as suas descrições e relatos, incentivando o experiencialismo (a experiência vivida como a única forma de saber), em que se distinguiram autores como Fernão Mendes Pinto, Garcia de Orta, Amato Lusitano, Tomé Pires, deixando estudos valiosos sobre a fauna, a flora, os costumes, a medicina, os climas desconhecidos, etc.
v     Distinguiram-se ainda na matemática e na cosmografia Pedro Nunes, D. João de Castro e ainda Duarte Pacheco Pereira, que nos deixou descrições fabulosas das navegações portuguesas.
v     A valorização da experiência e da observação directa dos factos, aliadas ao espírito crítico, foram os maiores contributos do experiencialismo português para o desenvolvimento da sua época.

A Matematização do Real; a Revolução das concepções cosmológicas

v     A Criação do Espírito Matemático

Às constatações empíricas tornava-se necessária a reflexão teórica apoiada no progresso das matemáticas e do raciocínio dedutivo.
Um dos mais importantes contributos foi o de Leonardo da Vinci na definição do método científico.
Tendo a experiência como a base do conhecimento, alia a esta a demonstração matemática das hipóteses suscitadas pela observação que permite a formulação de leis científicas.
            (ver os grandes responsáveis pelo

v     A Revolução das concepções cosmológicas

A visão cosmológica legada por Aristóteles e Ptolomeu de que a terra ocupava o centro do universo foi igualmente posta em causa pelos cosmógrafos do Renascimento.

Um dos mais importantes foi Nicolau Copérnico, natural da Polónia, estudou em Cracóvia, Pádua, Bolonha e Roma. Apresentou uma teoria, que colocando em causa as teorias de Ptolomeu e Aristóteles defendiam:

            1- O movimento comum das esferas pode explicar-se se considerar o movimento da Terra;
            2- Todas esferas celestes giram em torno do Sol, incluindo a Terra; bem como giram em torno de si próprias
            3-: O movimento do sol é aparente o seu movimento não é mais do que a projecção na abóbada celeste do movimento da terra.

           
Porém apesar das descobertas de Copérnico, quem vai realizar as grandes observações que confirmam as teorias copernicianas foi Tycho Brahe que realizou observações que permitiram a Kepler formular matematicamente as teorias que confirmavam o movimento da terra em torno do sol.
           
No entanto quem mais se destacou foi Galileu Galilei que se distinguiu com a lei da queda dos graves e com o telescópio permitiu-lhe realizar observações sobre os corpos celestes e provar a teoria coperniciana.
Com Galileu nasce a ciência moderna. Com Galileu nasce uma nova teoria do conhecimento, que separando a fé da razão substituiu a autoridade pelos dados da observação e da dedução lógica.



Os novos valores do comportamento social. O estatuto de prestígio dos intelectuais e artistas.

Todas as modificações verificadas nos capítulos anteriores deram origem a um forte sentimento de optimismo em relação à vida. As principais preocupações do homem da Idade Média, subjugadas e confrontadas com a ideia da morte pereceram face aos novos valores do homem do renascimento.
Surge então uma nova imagem do homem que fez prevalecer o conceito de humanitas sobre o conceito de nobilitas.


v     A procura de fama e de glória

Este ideal de homem completo incita o humanista pelo gosto pelo conhecimento, em diversas áreas do saber. Da filosofia à história, passando pelas ciências, a construção reveste-se de um conhecimento experiêncialista ao invés do saber livresco e teórico do homem medievo.
Os séculos XV e XVI foram notavelmente fecundos em homens extraordinários pelos seus conhecimentos e aptidões: Príncipes e condottieri, papas e cardeais, burgueses e nobres procuraram tornar-se conhecidos pelo seu saber. Entre estes destacam-se também os Mecenas que perpetuavam o seu nome e valor pela protecção de artistas e intelectuais.
Como reforço por este individualismo, podemos afirmar que entre os gostos da época se sobressai no género literário a biografia, na pintura o retrato e nas ciências a História.

v     O refinamento da sociabilidade

Esta sociedade exigiu, contudo, um refinamento na actuação social, não bastando o aspecto exterior do indivíduo mas as formas de comportamento social. Estas são marcadas por regras de conduta social extremamente rígidas que ostracizam aqueles que não as seguem e conhecem. Estas regras passam pelas formas de vestir, falar, pela beleza física e sobretudo pela beleza intelectual.

v     A espectacularidade das festas

O esplendor desta época é também marcado pelas festas realizadas pelos grandes burgueses e poderosos, nos jardins dos palácios, mas também, organizadas pelos responsáveis pelas cidades e por elementos do clero e pelo Estado, formas de ostentação de poder e de partilha do fausto e do luxo com os humildes e simplórios do povo.
Entre as mais importantes destacam-se as de carácter religioso, (missas, procissões e mistérios), mas existiam também de carácter profano e civis (casamentos de reis, visitas de chefes de estado ou comemorações importantes para as cidades e estados).

Muitos eram os artistas que emprestavam a estas festas e à sua organização todo o seu talento de modo a publicitar quem as organizava, a cidade em causa e o valor das suas obras.
Entre estas festas destacam-se o Carnaval de Veneza ou as festas organizadas em Milão por Sforza para as quais contribuiu o génio de Leonardo da Vinci.

v     O estatuto de prestígio dos intelectuais

As exigências dos novos estados, o alargamento das áreas comerciais ou imperiais, impunham que os estados dispusessem de homens cujo desempenho determinavam o sucesso político dos mesmos. Assim, para a redacção das leis, dos textos de jurisprudência, na elaboração de cartas e de discursos, eram tarefas que exigiam a que as cortes dispusessem de homens competentes para desempenhar estas funções. Estes humanistas e letrados eram os únicos em condições de assumir cargos de tão grande responsabilidade.
Mas esta presença estendeu-se aos músicos e artistas, professores e cientistas que animavam as cortes europeias, tornando-as núcleos de inovação cultural na Europa (da qual a nossa não foi excepção).
Dentro deste plano os reis promoveram a preparação superior de certos clérigos da sua confiança que frequentaram universidades em Salamanca, Paris, Lovaina, Cambridge e Oxford.
Os intelectuais assumem assim, papel preponderante nas cortes da sua época, recebendo reconhecimento e apoio relativamente aos cargos que ocupavam ou às funções que exerciam nas mesmas.
Pouco a pouco estes intelectuais demarcam-se das antigas corporações e associações de ofícios, organizando-se em academias de artes onde discutem os seus estatutos, ideias e gostos, mantendo-se unidos por fortes laços de entreajuda e solidariedade. (veja-se o caso de Camões e de Garcia da Orta)

v     Os Caminhos abertos pelo humanismo. O retorno aos clássicos.

O humanismo é a faceta literária e ideológica do Renascimento.
Desprezando os valores medievais, procuram o retorno aos valores clássicos da Antiguidade. Esta constituía um momento glorioso da história do homem. Petrarca é talvez o primeiro humanista que deslumbrado com os vestígios da civilização romana, considera o restauro da Antiguidade como emergência do pensamento racionalista.

v     O ressurgimento das línguas e dos textos clássicos.

Foi na aprendizagem do grego, do latim e no aperfeiçoamento do hebreu que a erudição humanista se distinguiu. A recusa por tudo o que dizia respeito à Idade Média, e à forma como haviam sido traduzidos e utilizados os textos dos filósofos como Platão e Aristóteles, que os humanistas reagem. A escolástica é recusada e de novo se procura a tradução rigorosa dos originais do novo testamento escritos em grego.

v     A divulgação e imitação dos clássicos

A cultura sai das bibliotecas e dos mosteiros para ser colocada ao serviço de uma colectividade alargada de humanistas que avidamente procuram ler, traduzir, reproduzir as obras dos autores clássicos.
Para a realização deste trabalho muito contribuiu o papel do mecenato e do respectivo mecenas.
Também o paradigma clássico fez nascer nos autores a vontade de imitar as grandes obras e autores clássicos. Foi o caso de Thomas More, autor inglês que na Utopia, procurou a síntese da República de Platão, concebendo um mundo ideal e racionalizado, contra as monarquias despóticas e a ociosidade dos nobres, o luxo dos monges e a corrupção do funcionalismo.
Em Os Lusíadas, Camões procurou escrever uma epopeia à semelhança da Eneida de Virgílio, mas acrescentando aos valores clássicos, o saber de experiência feito do homem moderno.

v     A reinvenção das formas artísticas: O regresso aos clássicos, individualismo e naturalismo.

A arte do renascimento foi marcada por uma nova estética e nova sensibilidade, marcada pelo classicismo, individualismo e naturalismo.

v     Classicismo

Esta corrente estética é marcada pelo revivalismo das formas da arquitectura e gostos clássicos, colocando em causa os gostos estéticos anteriores (o gótico).
Desta forma são as formas clássicas – alicerçadas pela razão – as únicas a projectarem os produtos da criação divina.
A ressurreição das formas de arte clássica surgiu primeiramente em Itália devido às descobertas arqueológicas realizadas durante este período e subsidiadas por mecenas e papas, as quais foram criteriosamente expostas em museus e colecções criadas propositadamente para as salvaguardar.


Na arte, o classicismo manifestou-se a partir dos seguintes processos:
            1- Recuperação de elementos arquitectónicos greco-romano (colunas, pilastras, capiteis, cornijas, frontões, arcos de volta perfeita, abóbadas de berço, cúpulas);
            2- Adopção das temáticas e figuras da mitologia grega

            3- Gosto pela representação da figura humana, vestida ou despida, chegando-se ao ponto de a figura de Cristo se confundir com a de um atleta e a da Virgem Maria, se salientar a graça em detrimento da santidade da figura em termos religiosos.
            4- O sentido de harmonia, simetria e ordem, foram as principais preocupações dos artistas, chegando mesmo a discutir e a especular sobre as medidas ideais do corpo humano), procurando adoptar a medida dos edifícios à medida do homem.

v     Individualismo
A partir de agora, os humanistas assinam as suas obras e revelam a escola a que pertencem, sabendo que o retrato, a estátua se tornam moda neste período, que grandes palácios se constroem para conforto e vaidade do ser humano e que grandes túmulos o glorificam após a morte.

v     Naturalismo
A partir de agora, procura-se ao máximo a captação do real, o realce pelas paisagens como pano de fundo das obras de arte. Também na fisionomia humana se procurou a graça e o movimento das fisionomias retratadas.
Para tal, foi possível devido à descoberta de duas técnicas:
  1. A perspectiva: ou seja a capacidade de reproduzir numa superfície plana objectos e pessoas com o aspecto tridimensional
  2. A pintura a óleo, ou seja, a invenção flamenga que permite a composição de pormenores e uma gama de cores mais rica em tonalidades.

Características da arquitectura renascentista

v     Simplificação da estrutura dos edifícios:
            1- Preferência por abóbadas de berço à estrutura ogival;
            2- A cúpula passa a ser um elemento dominante das construções (à luz da cúpula do panteão de Roma);
            3- Utilização exclusiva do arco de volta perfeita;
v     Adopção de uma gramática decorativa greco-romana:
            1- Emprego de soluções arquitectónicas tipicamente clássicas (colunas - com base, fuste e capitel) das ordens clássicas sobretudo a coríntia e compósita.
            2- Uso de frontões triangulares
            3- A utilização de grotescos para a decoração parietal, ou seja figuras humanas e animal, para a decoração das pilastras, em forma de frescos ou altos-relevos.

A exigência racionalista

A procura da simetria absoluta, onde os eixos de todos os edifícios devem ser simétricos;
A perspectiva linear, ou seja os edifícios no espaço devem corresponder a uma pirâmide visual, encontrando para o observador um ponto de fuga na base do edifício.
Preocupações urbanísticas projectadas para uma cidade ideal, e que na prática se referiu apenas a praças públicas, relacionadas com a harmonia e as respectivas infra estruturas.
A Arquitectura religiosa e civil

Para além dos edifícios religiosos, foram também construídos palácios, castelos e casas burguesas ao gosto da época. As casas eram de decoração exterior simples, ou decoradas com volumetrias exageradas de revestimentos de grandes pedras esquadradas). No interior predominavam o pátio interior, para onde se abriam as portas das câmaras, estas comunicavam entre si por meio de uma série de arcadas apoiadas por colunas (as famosas loggia)
No entanto podemos assistir a edifícios com ordens sobrepostos ou a pureza das formas clássicas, como na fachada do Louvre em Paris.

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