terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Identidade Civilizacional da Europa Ocidental I

 
Poderes e Crenças – Multiplicidade e Unidade



Até ao século XIII, formam-se três conjuntos civilizacionais que rodeiam as margens do Mediterrâneo:

A Cristandade Latina, no ocidente da Europa e oriunda do império romano do ocidente e dos reinos bárbaros que lhe sucederam. A mistura dos povos bárbaros com a sociedade de origem romana, resulta uma síntese entre elementos romanos e germânicos muito interessante, escolhendo o cristianismo como religião principal emergindo a civilização europeia cristã.

O Império Bizantino a oriente proveniente do império romano do oriente. A imigração dos povos eslavos provocou a cisão entre o mundo ocidental e oriental. As duas igrejas cristãs, a de origem ocidental e a oriental separam-se ainda mais.

O Islão, nascido na arábia no século VII, se estendeu pela margem sul do Mediterrâneo, ocupando o Norte de África e a Península Ibérica e para o leste do Indo. Estas conquistas proporcionaram aos muçulmanos vastas áreas de comércio e rotas caravaneiras da seda, as rotas do Indico e a rota fluvial do Nilo.


Uma Geografia Política Diversificada

Os povos germânicos que invadiram a Europa no século V instalaram-se nos territórios do império romano ocidental e aí estabeleceram os seus reino. No entanto, as lutas internas provocaram instabilidade política. A partir do século VII, as aristocracias entretanto formadas, fundam vários reinos em toda a Europa ocidental.

A França

A França é pacificada quando os carolíngios conquistam o poder.
Com Pepino o Breve, e sobretudo com Carlos Magno o reino dos francos é totalmente submetido a um poder central e dotado de uma administração eficiente.
Carlos magno conquista um território que compreende toda a Gália (França), parte da Germânia e a Itália até à planície do Tibre. (Holanda, Bélgica, França, Alemanha, Áustria e Itália).
O sucesso da sua política de conquista deveu-se sobretudo à superioridade dos seus exércitos, a cavalaria armada com boas espadas, a estratégia dos seus ataques e a sua diplomacia.
A segunda unidade política surge na passagem do século VIII para o século IX, quando o papa lhe concede a coroa de Imperador. Foi esta aliança com a Igreja e o espírito de cruzada que lhe valeram muito do apoio conseguido por esta instituição.

Características económicas entre os séculos IX a XI na Europa Ocidental


O aumento demográfico devido à diminuição das invasões e ao recuo das pestes, provocam por seu turno um desequilíbrio com as subsistências que têm tendência a diminuir devido:
Escassez de áreas ocupadas / cultivadas;
Mau equipamento agrícola; a maior parte dos instrumentos agrícolas são em madeira;
O arado mais difundido é ineficiente no trabalho do solo (apesar de não exigir a presença do animal de tracção), ao contrário da charrua mais rara, e à disposição de algumas casas senhoriais.
As áreas ocupadas são reduzidas e estão cansadas devido à contínua ocupação do solo;
Há falta de equipamento técnico para o desbravamento da floresta e drenagem dos pântanos – Arroteamentos;
A área de floresta é predominante na Europa, constituindo, no entanto, um importante recurso – caça, pesca, lenha etc;
As áreas agrícolas são pouco férteis, não estrumadas pois são cercadas para evitar a entrada do gado.

O Domínio Senhorial
O domínio senhorial é uma grande exploração agrícola pertencente a um senhor laico ou eclesiástico, pode ser constituída por uma propriedade contínua ou dispersa que se torna mais difícil de administrar e explorar. É constituído pela:

Reserva – parcela de terreno mais ou menos extensa, nos arredores do paço, administrada directamente pelo senhor e que inclui a horta, a vinha e os pomares. Esta propriedade é para uso exclusivo do senhor tornando-o quase auto-suficiente.

Paço – local onde habita o senhor, normalmente de grandes dimensões, construída em pedra;

Os meios de produção oficinas, moinhos, adega, lagar, forno...

Mansos – de origem servil ou livre, terra exploradas indirectamente pelo senhor no senhorio.

Os mansos servis: Os servos são homens e mulheres não livres, por nascimento ou recomendação, que trabalham para o senhor em troca do seu sustento podendo ser vendidos com a terra. Para evitar o seu sustento o senhor podia atribuir a uma família de servos ou a várias, uma parcela de terra – o manso – que exploravam, pagando renda ao senhor.

Os mansos livres: em idênticas condições, entregues a homens livres, eram normalmente de maior dimensão mas as rendas eram idênticas com prestações suplementares em algumas épocas do ano.

As Rendas

As rendas podiam ser efectuadas em dinheiro (entre os séculos IX e XI era simbólica devido à escassez de moeda), em géneros, parte da produção podendo atingir 2/3 das mesmas e maioritariamente em cereais. Existia ainda uma parcela da renda que era paga em dias de trabalho não remunerado na reserva do senhor – as corveias – e que constituía a parcela da renda mais onerosa para o camponês, retirando-lhe tempo de trabalho no manso.

O senhor exigia igualmente prestações suplementares em épocas especiais do ano como o Natal e a Páscoa, estas representavam pagamentos em ovos, aves, gado miúdo.

Finalmente os camponeses pagavam ainda as banalidades, ou seja compensações ao senhor pela utilização dos meios de produção – moinhos, forno, lagar, adega, instrumentos agrícolas mais sofisticados. (…)


As Comunas

Devido ao clima de paz e prosperidade que se vive na Europa a partir do século XI, a cidade reanima-se e renova-se, e aceita mal o domínio que alguns senhores procuram estabelecer, sobretudo se os seus domínios ocupavam zonas de burgo, onde eram aplicados pesados impostos, entraves ao desenvolvimento do próprio local.

Deste modo, iniciam-se lutas pela liberdade citadina, que começa nas cidades italianas e que rapidamente se espalha por toda a Europa, dando origem a uniões de habitantes que lutam pelos seus direitos – as comunas.

Estas lutas, muitas delas violentas deram origem à redacção das cartas comunais, ou seja, um documento onde estavam consignados os direitos e os deveres dos habitantes das cidades relativamente aos senhores

No norte da Europa, as cidades eram governadas por conselhos de burgueses muito ricos, que zelavam pelas cidades não só económica mas politicamente. Esta independência relativamente aos senhores ou mesmo ao poder central conduziu à independência de territórios que viriam a ser centros de poder económico e político em toda a Europa.






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